Desde pequeno fui habituado a ir a funerais. Os meus pais têm (tinham) montes de tios, e foram todos desaparecendo ao longo da minha vida. Já sobram poucos.
Hoje em dia há gente da minha idade que nem sequer vai a funerais. Com a minha idade, já quase toda a gente viu um avô ou uma avó morrer e nem sequer meteu lá os pés. Faz-me um bocado confusão não estar presente no adeus a um familiar tão próximo.
Tão próximo pelo menos para mim. Os meus avós viveram sempre perto de mim, o que fez com que tivesse bastante contacto com eles ao longo da minha infância. Nas férias, nos fins de semana, até aos 6 anos (não andei em infantários) foram autênticos pais.
Nunca conheci um dos meus avós. Toda a gente diz que sou igual a ele. Só há uma foto cá em casa, e reconheço algumas parecenças. Mas era um bocado assustador encontrar tias da minha mãe,e na altura virarem-se para a minha avó e dizerem "Parece mesmo o teu marido... parece que estou a ver um fantasma".
Hoje já só tenho o meu avô paterno vivo. Dos 3 que conheci, provavelmente aquele com quem fui mais distante, mesmo assim bastante próximo. Típico homem do campo, severo, quero posso e mando, e a Maria obedece. Isto condicionou bastante a educação do meu pai, que ainda hoje treme um bocado perante ele. Mas comigo isso não acontece. Ele bem tenta mas eu não deixo, sem no entanto lhe faltar ao respeito. Outros tempos...
Sempre que alguém tão próximo morria na minha família, e já aconteceu 3 vezes, nunca me senti abalado. Houve uma namorada que em tempos me disse que eu era mais frio que um cadáver. Sempre tive uma necessidade urgente de VER a pessoa, não sei porquê. É como se não acreditasse que estava morta se eu não a visse.
Não vou muitas vezes ao cemitério, e só vou praticamente quando a minha mãe me arrasta. Mas às vezes sinto uma vontade enorme de ir lá. Não sei porquê. Foi essa vontade repentina que me levou a escrever isto.
Não é armar-me em mauzão ou algo do género, mas acho uma enorme falta de respeito às pessoas da minha idade que ignoram por completo os funerais de familiares próximos. Aconteceu uma situação dessas com um amigo meu há cerca de 2 semanas. Fiquei espantado como é que não foi capaz de ir ao funeral da avó que o educou durante a infância, porque os pais não tinham grandes condições financeiras e afinal de contas o melhor dos infantários é a casa da avó. Se calhar não foram habituados desde pequenos a encarar estas coisas. Os pais tentam proteger os meninos, que a morte é uma coisa dura, muito má, terrível, e os putos vão desenvolvendo a ideia da morte com o efeito bola de neve e depois quando chega finalmente a idade de encarar estas coisas, estão todos cagados de medo. Nenhum dos nossos pais passou por isto. Na altura encaravam-se as coisas, não se protegiam as crianças.
Por isso é que é só flores de estufa por aí agora. Os mortos não fazem mal a ninguém, mas nós podemos fazer-lhes muito mal.
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